domingo, 6 de março de 2016

ao Tico

Aquela sensação inexplicável que ainda tentamos explicar de quando sai o resultado do exame não irá se apagar. Muito menos o frio na barriga de quando você nasceu, quando vimos a maior boca que poderia existir em um bebê.

Mas o medo da amamentação e o ardor das primeiras mamadas aos poucos deixarão de existir.

As olheiras disfarçadas com corretivo, decorrentes das noites em claro se transformarão em marcas de expressão (e mais tarde diremos apenas que são marcas de felicidade). Nossas marcas de expressão (adquiridas em dias de sorriso) darão lugar a marcas de idade. Estaremos cada vez mais acostumados com o pouco sono, seja por seu choro, por sua fome, por medo de escuro ou vontade de dormir em nossa cama. Nossa cama, hoje apertada com pedacinhos de gente, se abrirá em espaço, sobrará saudade para nós dois.

Aos poucos, você não mais nos chamará de madrugada. Nós é que estaremos atrás de você em algum bar da cidade, brigando porque você deveria ter ligado pra avisar que iria demorar. Nosso sono será interrompido não mais por um pedido de colo ou uma chupeta que caiu, mas por você tentando entrar em casa sem fazer barulho. Nós ouviremos. Sempre te ouviremos.

As conferidas em sua respiração ficarão cada vez mais raras e impróprias. A casa estará cada vez mais organizada (assim que lhe mandarmos catar suas roupas e sapatos espalhados).

Os cabelos da mamãe e os óculos do papai voltarão para o lugar, eles não serão mais motivos de preocupação. As roupas não necessitarão mais de cuidados especiais. Usaremos mais perfume. Andaremos mais arrumados.

Um dia voltaremos a sentar só nós dois em um restaurante e poderemos fazer uma refeição completa sem interrupções e sem um carrinho entre nós.

As cólicas, o choro sem motivo aparente, as mamadas intermináveis e as manhas para ficar no colo serão, aos poucos, uma lembrança distante.

Aquele sorriso torto, descoordenado dará lugar a dentes e discursos convictos a seu favor.

Você deixará de ser apenas um bebê, não caberá mais em nosso colo e ainda sabendo disso, haverá momentos em que iremos reclamar e negar esse colo. Nos lembraremos e nos arrependeremos disso.

Nossas gavetas e armários voltarão a ter espaço e nas prateleiras voltarão os quadrinhos e livros de poesia no lugar dos brinquedos.

As palavras inventadas e os "shhhhhh" da madrugada darão lugar a papos difíceis e até mesmo discussões de pontos de vista.

Sem perceber, você estará vivendo sua própria vida, mas já sabemos hoje, antes de tudo se tornar lembrança que você fez os nossos dias mais felizes e que nunca poderemos retribuir e nem explicar o sentimento que você nos trouxe.

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